Raízes e primeiros anos
Nasci em Sanclerlândia, Goiás, mas foi em Cuiabá que minha história de vida realmente começou a se desenhar, quando me mudei para lá aos cinco anos de idade. Fui criada por meus avós, que me registraram como filha, e a quem sempre considerei como meus verdadeiros pais. Cresci em uma família unida, amorosa e trabalhadora, onde desde cedo aprendi o valor do esforço e da dedicação. Minha infância foi marcada por uma simplicidade que moldou meu caráter, uma determinação que me impulsionava a superar desafios e um ambiente onde o trabalho era sinônimo de dignidade e sustento para a família.
Meu pai, um pedreiro e mestre de obras, era um exemplo de dedicação e competência. Desde muito jovem, eu o acompanhava nas construções, onde minha tarefa era lançar as telhas para ele enquanto ele trabalhava no alto das casas. Essa atividade exigia precisão e responsabilidade: eu não podia errar o lançamento, pois meu pai poderia se desequilibrar e cair; também não podia deixar a telha cair, pois isso causaria prejuízo ao dono da obra. Essa responsabilidade, longe de ser um fardo, me enchia de orgulho e satisfação, pois meu pai confiava em mim para uma tarefa tão crucial. Essa confiança mútua e a sensação de contribuir para algo maior foram fundamentais na formação do meu caráter e na compreensão do valor do trabalho em equipe e da confiança mútua.
Primeiros passos no mundo do trabalho
Antes que meus pais permitissem que eu trabalhasse fora, devido à confiança que tinham nos vizinhos, eu ia até a casa deles para realizar serviços de limpeza, buscando meu próprio sustento. Meus pais nunca me obrigaram a fazer isso; a iniciativa sempre partiu de mim, movida por um desejo profundo de prosperar e, principalmente, pelo medo de me tornar um fardo para minha família.
Enquanto limpava as casas dos vizinhos, tinha a oportunidade de assistir televisão, algo que não tínhamos em casa. À noite, pedia ao meu pai permissão para ir até a casa dos vizinhos e assistir TV. Com muito esforço, meu pai conseguiu comprar uma televisão preto e branco para nossa casa. Assistindo aos programas, especialmente os desfiles de moda, comecei a sonhar com aquele mundo. Pedi a uma tia que me acompanhasse até as lojas para que eu pudesse me apresentar e oferecer meus serviços como modelo. Com fé, garra e determinação, consegui fazer propaganda para algumas lojas.
Essa fase marcou o início de uma nova jornada. Fui convidada para participar de desfiles de apresentação de roupas de lojas de grife. Durante o dia, trabalhava; à noite, estudava; e nos finais de semana, desfilava. Esse esforço me permitiu contribuir significativamente para o sustento da casa, aliviando minha mãe de suas responsabilidades financeiras e permitindo que ela finalmente parasse de trabalhar.
Essa experiência não só me proporcionou independência financeira, mas também me ensinou a importância da perseverança e da determinação. Cada passo dado, cada desafio superado, foi um tijolo na construção da minha trajetória, moldando-me para enfrentar o futuro com coragem e resiliência.
Em 1987, conheci o homem que viria a ser meu marido. Ele conquistou meu coração com sua gentileza e caráter. Apesar de jovem, sempre fui decidida sobre o que queria na vida, e eu queria um marido que fosse um companheiro de verdade. Orava fervorosamente, pedindo a Deus que escolhesse um homem para mim, alguém que pudesse ser o pai dos meus filhos e me abençoasse com uma família. Quando o conheci, ele se mostrou extremamente respeitador, trabalhador, atencioso e íntegro. Senti que Deus havia respondido às minhas preces. Minha família apoiou nossa união, e meus pais nos abençoaram.
Em 1990, um ano depois, engravidei da minha primeira filha, Emmanuela. Ela era uma linda menina, muito desenvolvida e inteligente, que começou a falar e andar aos nove meses. No entanto, nossa felicidade foi interrompida tragicamente em 5 de janeiro de 1992, um domingo à tarde. Estávamos a caminho de visitar minha mãe quando um motorista bêbado, com uma latinha na mão, jogou o carro para o nosso lado para evitar uma colisão com outro veículo. Ao tentar desviar, acabamos batendo em um poste. Desmaiei e tive uma experiência fora do corpo, observando a cena de cima. Vi o desespero do meu marido, correndo de um lado para o outro, e um rapaz tentando socorrer minha filha. Quando fui socorrida, senti uma dor intensa na perna fraturada e voltei ao meu corpo, já dizendo que minha perna estava presa nas ferragens.
Fomos levados ao hospital. No caminho, deitada no banco de trás com a cabeça no colo do meu marido, ele chorava desesperado, e eu, com a voz trêmula, dizia: “só ora, só ora”. No hospital, enquanto o médico costurava meu joelho, que levou 52 pontos, entreguei minha filha nas mãos de Deus, pedindo que ela não sentisse as dores do mundo. Quando cheguei ao hospital, encontrei muitos amigos e familiares lá. Fiquei em um apartamento, e o médico proibiu visitas, permitindo apenas a presença da minha mãe e minha tia.
Perguntei à minha mãe sobre Emmanuela, e ela, preocupada com o bebê que estava na minha barriga, respondeu que ela estava bem. Eu disse que não precisava mentir, pois já havia entregado Emmanuela nas mãos de Deus. Eles já estavam preparando tudo para o funeral da minha filha. Não participei do funeral, mas sei que minha filha faleceu como um anjo. Desde então, não me permito errar, pois quero encontrar minha filha nos braços do Pai. Tenho a certeza de que, se cumprir minha missão aqui, encontrarei minha filha novamente.
Essa experiência dolorosa moldou minha vida e minha visão de mundo. A fé e a resiliência que desenvolvi me ajudaram a seguir em frente, sempre com a esperança de um reencontro no futuro.
Superação e fé
Após o acidente, fiquei confinada ao leito de um hospital em casa, sem poder me levantar, por quase dois meses. Posteriormente, passei a usar uma cadeira de rodas e, um pouco antes do final da gestação, já conseguia andar com a ajuda de muletas. Quando meu filho Gabriel nasceu, comecei a me reestabelecer fisicamente, mas enfrentei novos desafios. Perdi o apetite, emagreci drasticamente e comecei a perder cabelo. Foi então que descobri que estava com hepatite B. Iniciei um tratamento rigoroso com o Dr. Augusto Cezar Regis, que envolvia tomar uma injeção diariamente por um ano. O médico havia me desenganado, afirmando que eu já estava com cirrose e que qualquer movimento brusco poderia comprometer meu fígado. Fui obrigada a voltar para a cama e não podia segurar meu filho pequeno.
Minha mãe, sempre presente e preocupada, trouxe irmãs da igreja para orarem por mim. Elas me perguntaram se eu aceitava Jesus em minha vida. Respondi que sim e, a partir desse momento, comecei a sentir a presença divina em meus sonhos. Essa experiência espiritual foi um ponto de virada. Comecei a melhorar gradualmente, conseguindo prosseguir com o tratamento e recuperando minha saúde.
Durante todo esse processo, meu marido esteve ao meu lado, me ajudando e me incentivando a não desistir. Seu apoio incondicional foi fundamental para minha recuperação. Ele me encorajou a buscar novos horizontes e a investir em minha educação. Foi então que decidi iniciar meus estudos em Administração. Em 1994, comecei minha graduação em Administração de Empresas, um passo significativo na minha jornada de superação e crescimento pessoal.
Essa fase da minha vida foi marcada por uma combinação de fé, resiliência e apoio familiar. A experiência de quase perder a vida e a luta contra a doença me ensinaram a valorizar cada momento e a importância de ter um propósito. A fé em Deus e o amor da minha família foram os pilares que me sustentaram, permitindo-me não apenas sobreviver, mas também prosperar e buscar novos sonhos.